quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Mais uma noite...

Era noite, como todas as outras noites em que vago pela rua. As minhas memórias insistem em me trazer de volta o cheiro dela. Insistem em brindar-me com um cheiro cítrico e único e muitas vezes sequer é preciso fechar os olhos. Fechar os olhos pode vir a ser pior. Se conhecem ironia, sabem que vez ou outra ela resolve assaltar a nossa mente. Nunca me importei com luzes como essas que iluminam uma cidade que para alguns olhos parece deserta, e para outros é o antro de perdição. Perdição. O que vem a ser a perdição se não a busca do respirar nos seios de uma bela mulher. E a ironia desta noite me trouxe ao mesmo lugar onde a minha perdição teve início. A mesma porta vagabunda com o mesmo leão de chácara imbecil selecionando com seus olhos e bolso quem entraria ou não no night club. Tenho sorte e cem pratas no bolso. Passo a porta, o homem ainda me sorri com aqueles dentes laqueados em ouro. Um odor de suor e lavanda vagabunda que enoja os sentidos mais apurados. Os corredores são estreitos, escuros e com o jogo de luz que vem vez ou outra do espaço de dança pode-se ver um casal ou outro, ou três, o cheiro de sexo começa cedo. Começa na língua que se pode ver adentrando a boca ansiosa do rapaz.. nas mãos que se misturam e se perdem por dentro de tecidos, jeans, cabelos.. Nos olhos que percebem o visitante e sorriem, descaradamente eles sorriem como se provocassem ou convidassem os desavisados. Os gemidos. Umidade. Mãos que descem secas e retornam úmidas aliadas a suspirares, gemidos, Moveres lânguidos de corpos que simulam algo que não demorará muito para acontecer, mas não tenho tempo. Não foi para ver orgia romana que vim a este lugar e gastei minhas cem pratas. Sigo adiante. Deixando para trás o cheiro de sexo imberbe para adentrar ao salão. O palco estava vazio, então ela ainda não havia começado a seduzir. Não é difícil encontrar uma mesa, difícil é acha-la próxima ao palco. É afastar os grandalhões que insistem em meter a mão entre os seios das garçonetes, em puxa-las para si, e com mãos ávidas, grossas e ásperas adentrarem por baixo dos vestidos, puxando-as para o colo. E é possível ver as calcinhas que são afastadas, os dedos que abrem ainda mais, algumas pernas que cedem estremecidas com o carinho inesperado e se o cliente agrada, outras se indignam com tal tratamento.. uma obscenidade. É sempre assim quando a garota é nova. Dentro de um mês e com as gordas gorjetas as pernas se abrirão ao simples olhar ou chamar do mesmo dedo bruto. Jenny, a loira de poucas sardas no rosto se aproxima, e juro que a bandeira nunca esteve em lugar melhor que não naqueles seios estufados a propor um brinde. Eu peço o de sempre, ela sorri, colando os lábios deliciosamente grossos nos meus, maculando minha boca de um batom perfumado, com cheiro de framboesa. Deixo que a língua limpe a gordura deslizante do batom nos meus lábios e ela segue, não demora a voltar com meu whisky com gelo e deixar sobre a mesa. Pergunta se não vou querer companhia desta vez. Eu sorrio. Não.. não desta vez pequena Jenny, e ela sai. Talvez irritada pelo desprezo, talvez não, rebola ainda mais que de costume arrancando gritos primatas. Quem sabe outro dia. Hoje.. hoje eu serei dela e apenas dela. E os gritos entre as mesas se intensificam. É hora do show. O som de garrafas batidas contra a mesa, de alguns gemidos que já se tornaram maiores e beiram ao êxtase, o cheiro de sexo, de gozo.. o cenário perfeito para que ela entre. Estico minha cabeça para enxerga-la melhor e ela surge. A cascata vermelha que lhe cai até a linha do quadril. Quase posso sentir o perfume de onde estou. Os seios firmes vestidos com uma seda fina, tão rubra quanto os cabelos que ostenta. Os rosto oculto pelo véu, deixa transparecer apenas as esmeraldas que ela carrega nos olhos. Uma jóia que não necessita de adornos, pois nenhuma jóia estaria a altura daquele colo de marfim. Ela segue para o centro do palco numa dança envolvente, num mover sibilante de quadril, num arquear das costas, como se oferecesse o sexo coberto pelo manto vermelho, que deixa antever apenas pela fenda parte das coxas. E a musica se torna mais alta para abafar os urros dos trogloditas enquanto ela dança.. enquanto aproxima seus lindos seios, de mamilos túrgidos do rosto de um desavisado que tenta agarra-la. Ela se afasta. Eu sorrio. Os olhos verdes esmeralda se erguem enquanto ela se deixa abraçar por um homem alto. Permite até que lhe cheire o pescoço, para me provocar. Sim a mim.. Os olhos esmeraldas estão presos nos meus, enquanto a mão com unhas rubras seguem sobre o braço do homem, e ela se move, se esfrega luxuriosa na calça do rapaz, a língua do homem a percorrer o pescoço alvo, a boca que se abre num escapar de um gemidinho sem vergonha, e ela me olha, eu não me movo. Numa brincadeira em saber quem é o predador em verdade.. e as unhas arranham o braço do homem,, afastam as mãos, e ela sai daquele abraço, deixando o pretendente da noite desolado e excitado. Ela dança. Dança como se fosse um ritual para a lua, se oferece enquanto escolhe o consorte da noite, e vem o sorriso. Os olhos verdes que atravessam o salão de encontro ao meu, e ela chama pelos dedos, eu sorrio. Um ultimo gole de Whisky e já nem escuto o reclamar de meus adversários. Agora sou apenas eu e o caminho até ela. Um trajeto curto e subo ao palco, ela me rodeia, meus olhos sequer deixam os dela. E o arrepio causado pelas unhas que deslizam pelas minhas costas, pelo corpo de perfume cítrico que se cola ao meu, pelas mãos que deslizam para o tórax e descem ao sexo sobre a calça. É o sinal, eu deixo que ela brinque um pouco mais com a minha calça e ela brinca de arranhar o tecido sobre a coxa. De desabotoar a calça, de escorregar a mão por dentro dela e por sobre a cueca. E me tem na mão, tem a minha textura rija, desenhada de vasos. Pulsante. E vem a marca com uma mordida na nuca. Que me obriga a fechar os olhos.. enquanto ela move os dedos, num ir e vir gostoso e provocante. Meus olhos abrem, os dela sorriem atrás de mim, eu me viro e são frações de segundos, antes que arranque a manta e jogue-a no chão, gritos, gemidos longe, mas nada mais parece ter sentido senão ela. E com gestos tão apressados quanto os meus ela me despe. Arranca a camisa sem se preocupar com os botões, num afrouxar da gravata afoito, despenteando os meus cabelos castanhos. A calça não demora a ir ao chão, e os lábios levam com eles a cueca.. Nus.. como sempre deveríamos estar. E as bocas que se procuram num caminho certeiro de unir os lábios, a língua que penetra num predizer do que está para vir.. as minhas mãos que tomam os seios, os mais belos seios que já vi ou toquei, os dedos que brincam com os mamilos suavemente, e apertam num contraste de toques que a faz gemer entre meus lábios.. que a faz morder minha boca até conseguir o que quer. Até obter sangue de mim. Os olhos verdes provocativos o sorriso que ela dá enquanto lambe os lábios deliciosamente, a minha boca que desce tomando o lugar das mãos e a chupo. Não como os bons rapazes da vizinhança.. não como o operador da bolsa de Wall Street do horário comercial, lascivo como um animal no cio, marcando a pele, mordiscando. Chupo e ela desce o corpo, ajoelha-se com os olhos fixos onde ela quer.. Onde a mão vem tocar e avisar que se tornou propriedade de seus desejos e me possui. Me possui de um jeito úmido brindado com uma língua que sibila na extremidade do meu sexo. Os dedos que antes acarinhavam os fios vermelhos de seus cabelos agora os puxam. Não há mais a delicadeza. Há a selvageria, e ela sorri, consegue me levar exatamente onde ela quer. Ao limite. Ao extremo. E me deixando escapulir dos lábios me arranha o abdômen, me marca como um gado seu. Eu a chamo de vadia, ela ri.. deixo que as mãos marquem o rosto delicado e alvo, ela pede mais. E o mais pé dado a ela, quando a faço virar-se, e apoiar-se no chão. A mão que desce pelo glúteo, que abre e desliza, e se mela inteira na intimidade dela. Abre espaço para que agora eu a possua.. E não demoro a atender o meu desejo ou o dela. A penetro com fúria e ansiedade, as mãos tomam os cabelos rubros entre os dedos, e ela move-se como nenhuma outra jamais se moveria. E geme. Geme alto e lascivamente, com os olhos fechados. Se entrega entre pedidos de mais, mais e eu a atendo. Atendendo a mim de qualquer modo a tomando com maior intensidade. Puxando-a para mim pelos quadris diante de tantos olhares que deixaram de ser irritados para se tornar desejosos, e os gritos de luxuria vinham de todo o salão. Era o gran finale da noite. A Diva escolheu o consorte, que os convidados aproveitassem o espetáculo em boa companhia. Uma dúvida sempre devia existir entre aqueles homens, porque sempre a mim, desde que decidi freqüentar aquele lugar, mas não era hora para conjecturas e porquês, e sim para sentir o estremecer da carne, o contrair da umidade que me rodeava inteiro. O erguer do corpo dela para que ficasse de joelhos grudado ao meu, para que minha mão tomasse aquele abdômen retilíneo deslizando sobre o pequeno piercing de brilhantes pendurado no umbigo, que seguisse para os poucos pelos rubros que salve guardavam a entrada para o paraíso, e a boca quente e úmida buscava a minha entre palavras de baixo calão. Me chama de puto, cachorro, safado.. e pede que eu enfie mais, e mais e mais.. eu atendo. Até que vem os espasmos, juntos com o contrair.. ela aumenta o mover, chocando o corpo no meu e o gemido de êxtase escapa dos lábios, suada, suado, não tardo a explodir dentro dela em jatos constantes. E nos permitimos ainda a ficar ali abraçados por mais alguns minutos, ela sorri, sussurra ao meu ouvido que me ama. E pergunta de Sophie. Eu a beijo longamente. E me desfaço do abraço murmurando que a amo também. Que Sophie está bem e que a esperaremos em casa. Eu me visto. E desço do palco, ela se cobre e sai de cena. Aos meus pés alguns casais que imitam a arte, outros que se resolvem solitários. Não me importa, o nó da gravata é ajustado, a camisa não tem conserto. E o sorriso abrilhanta os meus lábios. Enquanto saio daquele lugar, o corredor já conhece novos rostos, e eu saio. O ar puro da rua, a luz vagabunda que ilumina a cidade. O meu carro estacionado do outro lado da rua, tateio os bolsos em busca do cigarro. Acendo. Deixo a fumaça me preencher os pulmões, e ligo o automóvel dirigindo até a rua de trás.. não preciso esperar muito Logo ela sai. Os cabelos ruivos presos num rabo de cavalo, A blusinha azul marinho de alcinha a cobrir a linda barriga, os olhos verdes a encontrarem os meus apaixonados enquanto ela recoloca a aliança no dedo. Eu exibo a minha. Um gesto antigo para dizer que está tudo bem. E ela entra no carro. Me dá um beijo daqueles que apenas ela sabe me dar. E segue abraçada comigo todo o trajeto para a casa. Para a nossa casa. Onde não sou mais um operador de Wall Street, onde ela não é mais uma performer de sexo ao vivo, onde uma garotinha de olhos verdes e cabelos cobre nos aguarda dormindo. Onde podemos ser finalmente marido, e mulher.

6 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Yesssssssss! Eis que o hiatus acaba! E minha nossa... a criatividade volta com tudo heim? como sempre a história prendendo o olhar que segue lentamente linha após linha desejando saber o desenrolar o final da história. O final e que final! Parabéns man ^^ surpreendendo como sempre! Beijusssss

10 de outubro de 2007 às 13:10  
Anonymous Anônimo disse...

texto maravilhoso, vc sabe que tem o dom de escrever.
Bjos

10 de outubro de 2007 às 15:57  
Blogger Tyr Quentalë disse...

WOOOOOW!!! rsrsrs Nossa mano seu hiatus acabou de uma forma surpreendente. Li o texto, pude ver a selvageria do sexo do casal e também me perguntei: Mas porque sempre ele?
Mas quando vi o desfecho inusitado eu achei o máximo! Está de parabéns mano. Eu não faria melhor XD

10 de outubro de 2007 às 16:20  
Anonymous Anônimo disse...

Putz... nem tenho muito o que dizer, o desfecho foi realmente inesperado. ADOREI. Dá pra imaginar bem tudo que aconteceu, é como ver a cena. Voltando com tudo, meus parabéns.
Quero só ver o que virá!

10 de outubro de 2007 às 18:51  
Anonymous Anônimo disse...

Sinceramente?!Não poderia esperar algo menos digno, provindo de quem redigiu!
Já leu Grandes Cortesãs de Henrique Kock? Caso não tenha lido..Deveria!
Um conto sem expressar vulgaridade, mas sim a sensualidade. De forma inocentemente pura e provocante. Um toque sereno aonde eleva os leitores para dentro do portal, se visando entre os personagem. Isso tudo de forma vista dentre o romantismo. Em contos, dentre outros, para se expressar nitidamente e prender a atenção..sempre existe um início atrativo,o meio cobiçador e um fim revelador..e por todos estes você conseguiu certamente alcançar..em um tema delicado até de se relatar..o erotismo exótico no qual ataca certamente a moral de tantos!Um mero parabéns não seria satisfatório lhe ofertar..até pq eu sei que é apenas o início, de muitos ainda tem a surpreender..mas não mais a mim!Este talento nato seria desperdiçado com simples elogios..não se contenha com meia dúzia de linhas..as releia e sempre evolua!Não subestime a sí mesmo e quem acabará se surpreendendo não seremos apenas nós..os leitores!
Quem sabe um dia terei o prazer de ler “Grandes cortesãs”..mas não mais escrito por Kock!

10 de outubro de 2007 às 19:47  
Anonymous Anônimo disse...

Nossa, cara, meus parabéns. Esse texto está lascivo, envolvente, intenso. Faz a pele gritar por mais, por um toque que seja. Atiçou-me memórias antigas e perigosas, guardião. Mal posso esperar por novos textos.

Saudações e congratulações, mais uma vez.

11 de outubro de 2007 às 08:52  

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