sábado, 10 de novembro de 2007

A Chuva - By Kock and Lila


Eu gosto de chuva. Gosto de ficar olhando-a pela janela e ver como lava tudo. Corpo, alma, carros, pessoas desavisadas que chegavam em casa agora pela madrugada e entravam rapidamente em seus apartamentos, homens que tentavam cobrir mulheres, uma nota de um cavalheirismo que eu mesmo achava que nem existia. Já faz algum tempo que estou aqui sentado na janela. Não da minha casa, mas da casa dela. Um lugar aconchegante por assim dizer. Móveis delicados, como toda ela. E um sorriso me brota aos lábios, olhando para fora. Não faz nem o que? Seis horas? Eu fui ao bar, e mais uma vez Rafa e suas piadas falidas passavam da conta. Resultado? Glicose e uma noite num hospital. Eu o xingava. A ele e a todos os seus possíveis e prováveis herdeiros. Perder uma noite de farra em minha vida era imperdoável. E foi xingando Rafa que o deixei no soro e fui para a cantina do hospital. A maquina desgraçada ficou com a minha moeda... Definitivamente não era meu dia... E era minha única moeda... Eu me irritei... E soquei a maquina... Nos filmes sempre funciona. O refrigerante desce. É. Não estou num filme. E veio o toque delicado a bater em meu ombro oferecendo ajuda com a maquina temperamental. Sorrisos, e os dela pareciam me abrir à alma. Eu agradeci, tomamos um café, conversamos, rimos, eu quis esperar o final do plantão, prometi uma carona, ela me ofereceu mais café. Aceitei, e foi o café, os risos, a conversa, os beijos. A minha boca que se adiantava no meio de um riso desprevenido que ela me dava e calava o sorrir com umidade. Com um beijo assustado que aos poucos cedia lugar ao convite. A boca que se entreabria para receber a língua ávida. A minha mão que ganhava a cintura... A dela que tomava a nuca. Beijos doces, calmos, delicados como o corpo dela que deitava-se sob o meu no sofá da sala dela.

Noite passada lamentava-se por não ter companhia... Ou será que isso era apenas mais um monstro dentro de sua mente que teimava em assustá-la? O que se podia dizer é que em meio aos traumas os sentidos eram perspicazes e por mais que tudo passasse rápido, cada momento era inesquecível... O que estava fazendo? Deixando-se levar pelo barulho incessante da chuva, como se cada gota fosse um retumbar grave na sua cabeça. Droga, era lindo demais fitá-lo enquanto não poderia deixar a chuva parar de cair... Estava sobre o móvel e agora não poderia escapar da maciez de sua boca ou da rispidez sonhadora de sua língua... Que membro desejável! Desde o pousar de seus olhos sobre ele aquilo se tornou um castigo, e não sentir seu corpo ou seu casulo intocável era ainda mais um pecado, pior do que já estava a cometer.
- Espere... Vamos, espere...
A boca esbravejava quando os lábios entreabriam-se, deixando que um sussurro quente e extasiado lhe saísse sem aviso. As mãos tocavam seu rosto como se a última coisa que tivesse em posse era sua face. Ela questionava-se, maldita hora daquilo acontecer, Deus como podia? Um resvalar de sua mão à dele e logo sentira que seus olhos a possuíam de certa forma e que seu toque era excitante demais para se poder parar. Olhe para mim, olhe dentro dos meus olhos, você vê? Precisa que a chuva pare de cair para que possa me fazer feliz hoje? As mãos pareciam buscá-lo fortemente como se o perdesse em cada beijo, em cada sentir de seus dedos correndo por sobre suas marcas... Deixe-me ficar, não me leve embora... Ah, não agora, não agora... A mão tocava sua pele e com suas unhas rasgava-se num sentimento, de lá jorrava desejo, como um veneno pronto para ser degustado.

Deixei-me ir antes que os olhos dela se abrissem e pudessem contemplar a noite. A chuva cessava ao mesmo instante em que me vesti. Buscando fazer o menor barulho possível, e deixei-me parar para vê-la dormir. E Deus como era bela. E tinha nela aquelas pintas que me inebriam a alma. Eu perderia toda a noite a contar aquelas estrelas salpicadas na pele clara. E contar com beijos, com a língua ansiosa em provar a pele novamente. Entre risos. De um sexo que começava ao sofá. Com o despir das roupas, com a mão ávida em descobrir o tamanho do seio sem o respaldo da blusa. Em retirar a calça, a minha e a dela. Em beijar cada milímetro de pele pálida. Sentir a mão que timidamente empurrava meu rosto para baixo, indicando numa caricia muda onde ansiava os toques e a minha boca ia. E a provocava, sem tirar a peça. A provocava com o calor dos lábios... Com os olhos presos aos dela. Com o sorriso guardado nos lábios. Sentia o cheiro que vinha da peça molhada. E retirei com cuidado a peça... Não sei... Tive medo de macular-lhe a pele alva com marcas, então ao invés de toques bruscos depositei beijos delicados pelo ventre no deslizar da calcinha. E a afastei... Beijei as tenras coxas... E a abri... Deixei a boca tomar o lugar que ela ansiava em beijos despretensiosos e abri os lábios com os meus lábios. Deixei a língua tomar... Provar... Sugar com suavidade... Até escutar o gemer que saia da delicada boca. A mesma boca que meus dedos tocam tão suavemente agora, quando acabo de abotoar a camisa, deixando sobre a cama o bilhete e o telefone. E saio. Para o vento... Para a noite... Para a chuva.

Céus! Mais claro do que nunca naquela manhã... As roupas deixadas ao léu, pelo menos as minhas estavam enrodilhadas uma sobre a outra como copas de furacões. Talvez aquilo fosse um jeito de tirá-lo do sério, de excitá-lo, de brincar com seus desejos mais ardentes, mesmo antes de arrancar com os dentes um sussurro de seus lábios. Como amaciava uma carne antes de engoli-la, concebendo levemente seu sabor por entre cada parte sensível de sua língua... As mãos aos cabelos denunciavam embalar-me a uma poesia indistinta, éramos nós dois que a escrevíamos: os amantes que mais se dispunham um do outro, que precisavam do pulsar do coração em ritmo comparado para que ambos não parassem. Exigia com esbaforidas selvagens, com gemidos que não se podiam calar, um pouco mais, um pouco mais, meu amor... Deixei que tomasse conta do que era corpo agora, era todo dele e eu nada mais possuía, a não ser que sobre mim não estivesse ou que não fizesse da mesma forma que agora parecia tão instruído, tão carinhoso e desbravador! Senti que cada toque era um marco para uma loucura que não se podia prever. Minhas mãos agora não conseguiam um rumo, estavam incertas como era incerto se ele continuaria comigo pela manhã. Meus cabelos foram prova do que jamais poderia imaginar, entre um levantar de cabeça e outro. Um erguer de corpo. Arranhava suas costas com todo o poder sedutor que tinha, meus olhos permaneciam apertados e eu sentia... Só um pouco mais, um pouco mais... Ele havia me coberto com um lençol de seda finíssimo e suave, como quando se toca na água levemente oleosa... Não conseguia mais senti-lo, eram apenas sonhos, onde minhas sobrancelhas inclinadas e minha testa franzida demonstravam prazer intenso e uma satisfação que me doía. Não saberia explicar! Meu corpo tremeu e eu gemi em cansaço...

Desde cedo aprendi a tocar o corpo de uma mulher. Não se deve ser brusco demais, como um agricultor que arranca ferozmente da árvore o fruto. Nem sutil demais que ela não vá sequer notar seu toque. Quem melhor conhecedor do corpo feminino do que sua roupa de dormir? Seu babydoll de seda que lhe envolve a carne em seu sono tranqüilo ou acometido de sonhos perturbadores. Os dela deviam ser inquietantes em suas noites. E é assim que toco. Percebam que o babydoll envolve e toca com sutileza quase imperceptível porem segura. Se sustenta na altura dos seios e recai leve e delicado por todo o corpo, como deve ser a mão. Como é a minha mão que desliza da curva dos belos seios para o ventre. O pressionar suave dos dedos, a boca que se afasta da dela num sorrir, que desce observando o olhar. Uma mulher te guia pelo olhar dela. Os dedos que tamborilam no volante do carro no caminho para casa. Chuva. Eu gosto de chuva. Chuvas me lembram molhar, e escorrer pelo vidro do carro, me lembram o molhar que escorria pelas pernas dela. Sinal que fecha, a mão indecisa que controla meu rosto, o sinal abre, o carro segue, a mão que cede e a boca desce. E toma a virilha com um lamber delicado, úmido, o sugar do ventre. Toda mulher é uma caixa de surpresas, como uma caixa de pandora. E esta acabava de abrir, soltando o que havia lá dentro com o repuxar da minha carne, com o pressionar da minha cabeça ainda mais para si. Com o impedir de sair, e o rebolar da anca ansiosa por algo que gritava em seu ser. O corpo jaz estagnado sobre a cama em tremores de carne, o meu sorriso com a língua a deslizar pela boca, sorvendo os últimos instantes de gozo. E o meu corpo a subir, minhas pernas tomando o caminho entre as dela, que se abrem rendidas. Encaixar. A respiração faltar num prender do ar, deslizar. Sentir-se inteiro dentro dela e mover. Suave, sorrindo para as sobrancelhas arqueadas, o cenho contraído. Abro a porta deixando lap, celular e chaves sobre a mesa. Um banho, um copo de achocolatado, cama. Sono.

O entreabrir de lábios que quase não conseguiam mover-se, que eram contidos por suspiros e gemidos quentes. As mãos que seguiam pelas dunas do corpo, fixando-se aqueles cabelos sonhadoramente macios. As unhas acariciavam o couro cabeludo. Em meio a sorrisos instigantes e um pestanejar de pálpebras lá estava ele, tão altivo e surpreendente. Deixe-me respirar profundamente... Apertei meus lábios e olhos, pareciam trêmulos ao seu toque. Desci minha mão por seus braços ávidos, corriam suaves, como o tocar de uma pluma levada pelo vento. Seus dedos entrelaçavam-se aos meus, presos entre um contrair e outro de dedos. Sobre ele sentia-me dominar, em seu colo eu podia controlá-lo como bem quisesse, levando até si ondas de prazer que pareciam fortes contra um rochedo... Meus cabelos lhe caíam como caracóis a face ruborizada, eu pude focá-lo em meus pequeninos olhos de fada. O mesmo brilho estava lá, tive que soltar um leve gemido de dor e apertar suas mãos contra o móvel. Meus quadris eram vagarosos, fazendo possível o prazer de ambos... Não, eu não queria que tivesse logo um fim! Sussurrei-lhe aos ouvidos, palavras de poesia, palavras de canto, palavras que podiam lhe incitar a loucuras. O dedo calou-lhe os alvoroçados e róseos lábios, os mordi com desejo. Dirigi sua mão até minha cintura... O sol no meu rosto pode levantar-me da cama e me deixar sentada com a mão contra o pescoço, descendo leve até o colo, tateando os ossos do corpo magro... Ah, ele estava lá, as cortinas brancas esvoaçantes de veludo estavam com seu cheiro que logo me subiu as narinas, eu senti como se ainda estivesse sobre, sob mim. Liga-me, por favor...

Photo de Artphotogak

sábado, 3 de novembro de 2007

I - Casual - By Kock and Gia Kali

Noite. Engraçado como fechar os olhos pode transportar para um passado recente. Um passado recente e repleto de vozes, festa, olhares que se cruzam. Um chop num bar com mais pessoas, olhares que voltam a se cruzar. Aproximar. É ela estava ali. Bem na minha frente e antes que qualquer um chegasse, eu me aproximei. Conversa agradável, eu a fazia rir. Sempre tive esse talento com mulheres, fazer rir. Um amigo me dizia que mulheres adoram homens que as fazem rir. E como explicar essa coisa de química? Com ela rolou, química, biologia, história, matemática. E olhares passaram a toques sem querer, toques por querer, abraços, beijos... Fechar os olhos é saber o caminho de casa. Saber que bebemos demais para pensar em conseqüências, mas de menos para esquecer ou não saber o que fazer. Meu apartamento ou o seu? Sorrisos como resposta a uma pergunta não feita. Não sei a casa dela, mas ela me segue até a minha. E os beijos se tornam mais intensos no elevador. Cheiro. Eu fecho os olhos na cama e consigo ter de novo o cheiro dela, está aqui nos meus lençóis. Mesmo que a cama agora não abrigue dois. Errar a chave, abrir a porta. Entrar em beijos sôfregos, em mãos que deslizam pela roupa dela, que entram pela blusa de botões.. seios. Deve haver uma coisa psicológica para homens e adorações por seios. Complexo de Édipo sei lá. Os dela eram perfeitos. Cabiam nas mãos, na ponta dos dedos. Na minha boca. E o despertador. Hey, eu sei. Já to acordado. Alias acordado faz tempo. E o meu dedo que desliza no peito. Marcas de unhas. É... eu to acordado. E marcado como gado. Tem coisa melhor?

Onde está o maldito sapato?”As mãos afastavam a coberta bagunçada na tentativa desesperadora de achar o sapato de salto alto para ir para o trabalho. Era a única coisa que faltava. Para variar, estava atrasada, o que era compensado pela alta competência dela. No entanto, ela ainda sentia um leve arrepiar e sorriu com o canto da boca. “Que se dane o sapato”!" Não ia ficar tão elegante. Não importava. Era uma importante reunião. Lá estavam os diretores, mas, as vozes dele pareciam tão distantes enquanto ela ainda pensava no homem que a deixara desesperada em luxúria, completamente inebriada por sensações prazerosas. Ela brincava de seduzir com ele, era gostoso ver os olhos brilhantes, olhos sequiosos por ela e aqueles olhos mostravam tamanha admiração que ela o queria e mostrava isso com provocações que nunca antes ousara... apenas imaginara. Mas, homem algum a fizera querer se mostrar tanto como aquele homem. Pois é, era como diriam as amigas: Cada foda é única mesmo que seja ruim! Ela afastou os pensamentos libidinosos da mente como se afastasse uma incômoda teia de aranha e sorrindo, adentrou com mente, corpo e espírito na reunião.

Nunca acertei dar nós de gravata com precisão. Ao menos não o primeiro nó. Meu pai sempre disse que um homem que não dá seu próprio nó de gravata não é um homem. E o sorriso me brota aos lábios quando ao espelho do banheiro na terceira tentativa de acertar eu vejo as mãos. As mãos delicadas que desfizeram com tamanha rapidez o que eu levava minutos, horas para acertar. Que me tirava a gravata e jogava no chão do banheiro, e puxava os botões da camisa com um sorriso nos lábios. Desenhava-me os pêlos do peito. Preciso parar de pensar. Preciso parar de imaginar... de lembrar. Preciso estar atento ao tic tac do relógio no meu pulso que indica que vou me atrasar para o trabalho. E hoje ainda é dia de reunião com amigos. Dia de sentar no barzinho próximo ao trabalho para conversar sobre a estagiária gostosa, sobre a secretária que estão saindo, sobre quem faz mais o que na cama. E a calcinha de quem alguém guardou, e meu sorriso ao sair do banheiro e abrir a gaveta para pegar a peça. Eles eu não sei.. eu sei muito bem de quem peguei. Um cheiro na peça.. o cheiro dela que parece tomar todo o meu corpo novamente. Tic tac.. hora de ir para o trabalho após o chek in diário. Pasta, paletó, celular, chave do carro, lap top. Uma xícara de café. O jornal de hoje. O bater da porta.

Meio da tarde. A saia do tailleur já começava a irritar e nenhuma chance de escapar para dar uma malhada. O mau-humor iria aumentar com toda certeza. Levara um sabão diante de todos os homens do escritório por estar distante. Tinha que ler um relatório que exigia total concentração. Muitos milhões em jogo e ela não podiam deixar o ar formal de lado. Olhou o delicado relógio de pulso e fez um muxoxo. Pegou a elegante bolsa preta de couro brilhante e saiu para o mundo. Hora de mudar de vida um pouco, fazer as roupas apertadas de mulher chique e inteligente para se entregar a uma prática de movimento corporal satisfatória, onde tiraria da mente os toques delicados do arrancar sutil de roupas, de quando ele desabotoou sua blusa de botão, quase masculina, deixando um colo à mostra apertado por um sutiã de algodão de fundo branco e corações vermelhos. Ela corou um pouco. Não estava preparada para seduzir e brincou com a gravata dele, desabotoando a camisa dele e brincando com o peito nu. Ele deixou a calça dela deslizar e ela corou de novo quando ele percebeu a calcinha com o mesmo motivo do sutiã. Ela o puxou para cima e beijou a boca dele, segurando-o pela nunca, dizendo obscenidades, tudo para ele não reparar que ela havia ficado desconfortável com o desnudamento desejado. Enfim, a calcinha ficou para trás na pressa de voltar para a vida como ela é. Paciência! Perdeu a calcinha para ficar com as lembranças sórdidas, extravasadas em uma gentil aula de dança do ventre.

O dia passava tão rápido e A secretária me trazia o almoço. Os médicos dizem que não é saudável almoçar no seu lugar de trabalho. Levante, ande saia, caminhe, vista, compre, beba, venda, a vida às vezes era um engalfinhar de ordens. E meu sorriso vinha ao rosto ao lembrar das palavras que ela me sussurrava. Por receio ou não de peças tão delicadas. E só então eu percebo que estava brincando demais com o sushi. Quando imaginava que meus dedos passavam nos mamilos delicados que tive entre os lábios. Ah a pele.. o gosto da pele, o cheiro da pele. A minha calça que ganhava o mesmo destino que a dela a cueca que era puxada para baixo que quando nos deitamos. E era engraçado como os corpo falam uma linguagem única. Eu a coloquei deitada com o rosto para a cama. Meu corpo por cima do dela. Os dedos a repuxar os cabelos e Deus.. eu tenho que comer. E trabalhar e lembrar que a ultima reunião do dia é numa empresa de empresários chatos. Meu sócio entra perguntando se vou ao snooker hoje. Que estou com cara de quem trepou a noite inteira. E eu sei que arregalei os olhos, porque a gargalhada que ele deixou escapar, dizendo que eu me entreguei fácil desta vez ressonava por todo o escritório. E eu deixo a minha mão coçar a nuca, numa mania de infância, mas o sentir são das unhas, as delicadas unhas que me arranhavam a nuca e a alma. E eu preciso de ar. Começo a achar que os médicos estão certos. Almoçar no local de trabalho pode ser perigoso.

A cadeira girou para o vidro, para a estrutura de vidro que não se abria para o mundo, para o pôr-do-sol. A xícara de chá quente na mão, a fumaça saindo e a vontade da alma respirar um pouco lá fora. Dia estranho! Um pouco de sono. Um sorriso maroto nos lábios pintados de forma perfeita. É, talvez, fosse à falta de sono ou o excesso de energia. A fumaça do chá contrastava com o ar condicionado, da falta de vida do ambiente, do constante bater de teclas, das conversas nos corredores que, mesmo a portas fechadas, eram ouvidas a distância. A fumaça do chá ondulando e os corpos ondulam dessa forma no delicioso movimento fluido do sexo. Sinuoso. Gostoso. Corpos copulando de forma livre... um corpo sobre o outro... o dela por baixo do dele... curvas, sempre em curvas como na fumaça do chá. No sexo, não há ângulos muito retos. Aliás, tem alguns... nem tão retos. A boca redonda sorvendo o ar e gemendo, os corpos se movimentando como numa luta infindável com o fim previsível dos gemidos altos, do tremor do corpo, da carne, inevitavelmente, trêmula... o corpo sentindo as ondas circulares do prazer único do gozo. Um sopro afastou a fumaça e os pensamentos. O sol se foi e hora de voltar ao trabalho!

O dia correu tão rápido, a mente me roubando instantes de lembranças com informações e papeis. Como eu posso ter tantos papeis? Lembro de ter tantos Cds, e dela escolher a musica que queria ouvir enquanto dançamos antes do sexo, casual e competente. Loreena McKenith. Um Cd que sinceramente nunca havia escutado. Ganhei de presente num amigo secreto de empresas. Todo fim de ano é assim, vc escolhe alguém, não tem idéia do que comprar, e recebe algo que alguém também não sabia que compraria. Mas ela dançava ondulava o corpo no ritmo da musica que agora parece retumbar na minha mente. O mover do corpo dela, sozinho a dançar. A mesma dança que fazia sob mim. O suor. O gemer. O gosto. Eu lembro do gosto dela em minha boca. Das pernas que apertavam minha cabeça, do riso safado que vinha com o repuxar dos meus cabelos. Pés. Que pés. Eles poderiam desfilar sobre a minha alma. E eu estava rindo de novo. Sei que estava porque quando meu sócio abriu a porta disse um sonoro “e a foda foi das boas heim” “anda Casanova, tem que ir assinar o contrato” E me entendia a pasta. A minha pasta meu lap, meu celular e chave do carro. Será que ele não queria o emprego de governanta na minha casa? Eu vou. No carro Loreena canta pra mim. Canta com uma voz que me lembra os gemidos de gozo. O arranhar das costas. E eu desço. Sei que entro na empresa com aquele sorriso nos lábios. Sei pq me apresento para a recepcionista que me olha por um longo tempo sem saber se rio dela ou para ela. E eu subo. E o cheiro. O perfume.. Não.. eu rio novamente. É o perfume dela.

Noite. Um banho quente para relaxar a tensão. Banho longo como beijos longos são prazeres divinos. Um pouco de culpa. A água se transforma em ouro. Mas, o corpo precisa relaxar soltar-se no fluir da água que cascateia de cima, do chuveiro. Sem paciência para banho de banheira. Cama macia com lençóis de algodão como as calcinhas de algodão. O melhor é dormir de calcinha velha e rasgada. Falta de glamour total. Meias para proteger os pés e não deixar ressecar. Meias cor-de-rosa pink. Camisetão velho e largo. Ela sorriu ao encarar o espelho para escovar os dentes. Coisa mais anti-tesão do mundo! Num surto, ela retirou o camisetão e encarou parte do colo solto no espelho e se admirou, observou-se admirada que alguém a desejasse que alguém realmente quis que ela sentisse quem ela era e se imantou no espelho por um tempo com a escova pendendo da boca. Ela se tocou e tocou o espelho meio troncha do pensamento perdido. Olhou para os pés calçados nas meias ridículas e se perguntou o que o homem da outra noite acharia se a visse assim com calcinha velha e meias pink... Ele era certinho demais, apartamento arrumado com jornal no lugar, móveis estrategicamente colocados em perfeita ordem, CD's devidamente organizados. Que idéia idiota dançar new age como se fosse dançável! Era a bebida, só podia ser... Um sorriso maroto! Olhou os dentes no espelho e se arrastou até a cama para dormir. Afinal, o sono era necessário, mas, quis ter toques quentes e as lembranças a perturbaram até que sem se dar muita conta pelo cansaço, deixou que os dedos seguissem pelo meio das pernas enquanto os pensamentos vagavam em fantasias absurdas com aquele homem, enquanto o roçar de corpos fluía em sua mente como uma música perfeita.

Contrato fechado, apertos de mãos e eu tinha tanta certeza que ela estivera por aqui. Maior besteira do mundo é o homem achar que sabe o cheiro de perfume de alguém. Tem noção de quantas mulheres usam a mesma marca de perfume? Ainda mais se estiver na moda, e com certeza está. Bom gosto, ela tinha bom gosto da escolha do prato até o dom de se despir. Não demoro mais que 1 hora para conseguir convencer que eles tinham que aceitar a consultoria da minha empresa e saio de lá como se fossemos grandes amigos. O celular a tocar. São os amigos chamando para o Snooker. Eu digo que estou indo. Mas não quero demorar. Na verdade eu nem queria chopinho com os amigos. Queria mais uma noite inebriado dela. Conversa jogada fora, perguntas sobre futebol, sobre como foi o dia, e aquela morena que acabou de ser contratada, o que fulana faz na cama, o que cicrana faz no carro, um monte de frustrado que deve voltar pra casa sozinho, ou para um casamento medíocre que eles recuperam cantando de galo em meio a um bar. Eu? Sou solteiro. E isso me é um prazer inenarrável. Um prazer que só se compara ao de estar no meio das pernas dela, e ver como ela reage ao dizer que é linda, gostosa e ver o corpo reagir como se aproveitasse o calor das palavras para florescer. Sou mais novo que ela, mas nem parece. Parece exatamente o inverso. Dizem que as mulheres se tornam chatas depois dos 30. Eu digo que elas são mulheres mesmo depois dos 30, e digo isso com o sabor dela em minha boca quando chego em casa.. Com mo cheiro nos lençóis. Que ainda estão do mesmo jeito. Desarrumados. Com o perfume dela entre os travesseiros. Um banho. Deitar nu. Aspirar o aroma. E o corpo. Ele responde ao cheiro, responde a minha mão ou a dela que desce pelo abdômen e toma o sexo. Que envolve e move. Que me arranca gemidos.

Seis horas da manhã. Um olho abre e o outro não. "Ah! Pelo amor de Deus! O sonho... ele estava aqui... ele ia me beijar... é o jeito, né?" Ela se ergue na cama lembrando que não pegou o telefone dele... ele tinha o telefone dela, mas ela não sabia o dele e não lembrava o endereço. A vontade de tê-lo contra ela a fez esquecer até o trajeto a casa dele. Bom, paciência! O jeito era esperar o próximo da fila, mas, não ia ser assim. Ela não era fácil. Ela se virou na cama, suspirando. O que ele tinha de diferente? Sim, o perfume de cheiro amadeirado insanamente elevador de tesão! O corpo gostoso com as gordurinhas no lugar. Homem musculoso demais parece tora de madeira. É bonito de ver, ruim de pegar. Ele tinha a pegada também. Ela sabia que ele era meio malandro. Solteiro, né? O teto precisava de uma cor nova... e ela olhou de novo o teto. Não era só uma cor nova... bolha! Argh! De novo, não! Não! Não! Não! Infiltração! Ela se sentou na cama exasperada, quase à beira das lágrimas. Colocou os pés para fora da cama e se encaminhou para o banheiro. A vida continuava... e, infelizmente, a bolha no teto a chamava para a triste realidade de uma nova pintura. Ia vender aquela droga de apartamento! Olhou para a cama e constatou com tristeza que nunca se divertira naquele aposento com homem algum. Aliás, em nenhum cômodo daquela casa... nenhum amigo! Que diabos de vida era aquela? Lembrou do sorriso dele, do jeito matreiro, da conversa inteligente... e quis aconchegar-se no corpo dele por um pequeno momento como amigos fazem porque ela xingava o pintor de uma ronca e fuça que tinha feito a pintura da casa.
Ela ia mandar fazer uma cópia de uma pintura famosa... quem sabe a Vênus? Não... as gordinhas! Sim, as gordinhas sexy para não sentir vergonha da celulite quando olhar para o teto. Questão de ordem prática: para onde ir? Da última vez, enlouqueceu uma amiga... a única! Gente, o que aquele homem fizera com ela em uma noite? Sexo! Dã! Não... o magnetismo, o cheiro... ai! Amor, volta, me deixa ficar inebriada de tanto tesão e esquecer a vida certinha e tola que vivo! Ela olhou para o lado, para a porta do banheiro e viu uma escultura em cima do aparador do quarto, uma escultura antiga da aula de arte de tanto tempo atrás: sexy, forte e animal. Sexo! Um casal copulando. A manhã tranqüila a trouxe para o mundo... por que estava escovando dente cedo se era sábado??? Arrastou-se para a cama, mas, o teto úmido não a deixou dormir. Queria a umidade de uma boca para dar cor a um pedaço cinza de reboco.

Quem pagou a conta do sol? Acho que é o primeiro pensamento que me invade ao rolar na cama. O perfume ainda esta aqui, dá pra acreditar? Não eu acho que não é no lençol, mas em mim. É a vontade de quem sabe ter novamente aquele corpo sob o meu.. sobre o meu.. ao lado do meu.. de sentir a pele arrepiar ao mais simples toque. Eu abro os olhos e o sol, ah não o sol. E que dia é hoje? Sábado. Hoje é sábado, é dia de futebol na praia com os amigos. Cerveja, sol, mar, mulheres. Meus olhos correm ao criado-mudo. Talvez eu mande pintar novamente o apartamento, quem sabe uma cor mais viva. Ou quem sabe deixe quadros tortos na parede. Acho que sou organizado demais. O papel. Eu deixo os meus dedos tocarem a folha de guardanapo, e números rabiscados. Eu não acredito que não peguei o nome dela. Cara como você sabe ser estúpido às vezes. E rio sozinho comigo mesmo. Tem melhor companhia para rir? Às vezes... Principalmente quando a companhia tem dois belos pares de pernas, olhos que parecem me despir, mãos que sabem exatamente onde tocam e boca redonda e macia dona de beijos avassaladores. Ah, de que adianta se esfregar na cama e não no corpo quente hm? Eu levanto, deixo o corpo nu caminhar para o banheiro. Um banho, a barba por fazer, eu penso em tirar, mas lembro do “ah, arranha.. é gostoso” e resolvo deixar. Não vai fazer mal mantê-la pelo feriado. Levo o telefone comigo. Ligar? Não Ligar? Dizem que quando a foda é boa sempre se liga no dia seguinte. Eu rio comigo mesmo, que frase canalha. Mas eu sou canalha, ao menos é o que meus amigos falam. Solteiro com a minha idade só pode ser canalha. Mas eu nem cheguei aos trinta ainda. Tá. Eu to na porta. Eu vou pro futebol. E quem sabe a noite? À noite.. a noite sempre é uma criança. Eu guardo o papel, vou ligar. E pensar na desculpa de sequer saber o nome dela.
Photo by Gia Kali

Projeto: Contos à 4 mãos

Caros leitores desde humilde e aconchegante espaço. Interatividade é a palavra do momento. E como sempre a busca de inovar (nem tão inovador assim) estamos começando um novo projeto. Contos à 4 mãos. Como vai funcionar? Simples. Eu e você faremos a história em parceria. Olha como é fácil? Estou convidando amigas, amigos (sim, porque em literatura, sexo é lúdico. A não ser que você use para extravasar suas vontades, obviamente. Neste caso é a nível de entretenimento então meninos, não se acanhem em usar calcinhas para mim. Rá! Brincadeira. A primeira leva de contos, eu interpretarei um homem. Na segunda leva, uma mulher), e leitoras, ou leitores. Espero que gostem dos textos, participem, e comentem. Ah para os envergonhados, usaremos pseudônimos, hm?

Um cheiro à todos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

In nomine Patri...

Os passos seguiam lentos na nave da catedral. Naquele imenso lugar apenas o som dos passos podia ser escutado. As vezes eu achava que as estátuas queriam falar comigo. Acho que até hoje não me enganei quanto a isso. Olhar aquelas estátuas de santos, e anjos que sofreram, dando de si o sangue para conseguir a redenção. Hoje eu já não sei que parte disto é alienação ou besteira e também não quero mais saber. Não me importa mais. As paredes deste lugar escondem segredos que deixariam o mais torpe homem envergonhado. As paredes deste lugar escondem ela. Até hoje ao lembrar meu corpo arrepia inteiro. Engraçado como até hoje sensações me perseguem. Eu já não moro mais dentro destas paredes, já não sou um garoto inocente que acreditava servir a Deus. Deixo meu corpo sentar no banco de madeira para olhar as estátuas novamente. E é como se eu voltasse no tempo. O fechar os olhos, o respirar. A ansiedade daquele primeiro dia. A mão que pousou na minha coxa com um leve apertar. Na época eu imaginei que fosse algo apenas para me fazer abrir os olhos. Hoje, eu percebo. Era o informar que eu já havia sido escolhido. Abri meus olhos e ali estava ela. Os olhos de um negro que pareciam me sugar. O rosto delicado e angelical envolto pelo manto do hábito. O sinal, o sinal que ela possui sobre o canto dos lábios, sinal que ansiei por tantas noites deslizar a minha língua ávida em busca de seu beijo. E ela me sorriu. Daquele jeito delicado e doce que pretende acalmar o espírito.
- Bom dia, você é Mates não é? Sou a irmã Claire... o Bispo pediu que eu o levasse até seus aposentos.. ele irá vê-lo mais tarde.
Aquela voz suave e delicada fora para sempre a minha perdição. Hoje, eu sei disto. Na época eu apenas me deixei sorrir timidamente e ser levado por ela pelos corredores da sacristia até meu quarto de paredes de pedras. Lugar simples. Uma janela, um guarda-roupas antigo, uma cama de cimento. Uma mesinha de estudos, alguns livros, a bíblia e a minha fé. Havia ainda um chicote de cordas dentro do guarda-roupas, assustei-me com aquilo e na visita do bispo mais tarde fiquei sabendo que era para os rituais de auto-flagelo. Estranho prazer de punição. Me perguntei uma única vez se Deus me castigaria com chicotadas caso eu tivesse pensamentos libidinosos. Hoje eu sorrio. A igreja é a precursora do BDSM, não há quem me tire esta idéia da cabeça. Os dias se passaram na catedral, eu cumpria as obrigações que me cabiam e a noite era voltada a orações e o recluso. Mas durante as missas, meus olhos sempre viam os olhos dela. Me sorria de um jeito que me desnudava a pele em frações de segundos, e eu descobri o sabor que tem o chicote de cordas em minha pele. Descobri-me uma noite a sonhar. Sonhar com os lábios de Irmã Claire a me beijar a boca e as delicadas mãos a me tocar. A me tomar o peito, a deslizar para o meu sexo. E acordei durante a noite a sua frio. Lembro que foi a primeira vez que resolvi que precisava reafirmar a minha fé. Levantei e tomei o chicote, bati temerosamente a primeira, segunda, o ardor na pele. Terceira, quarta... a partir da quinta os açoites já eram mais intensos e violentos e eu sentia o sangue a me escorrer pelas costas. Ao fim do flagelo, eu estava curado do desejo pecaminoso. E minha fé reacendida. Mas meus sonhos não me abandonaram. Eu sonhava com o cheiro, com o sabor que teria a pele, com a cor que teriam os mamilos, se haviam pelos ou não em sua vagina. E os sonhos passaram a ser acordados. A se passarem durante as missas. E meus rituais de punição se tornavam mais bruscos e violentos. E os sonhos mais pervertidos. Sonhava com penetrações. Em possuir a Irmã Claire, em ter a boca da mulher a tomar meu membro. Membro. Não tenho mais certos pudores em falar algumas palavras que antes me soavam como palavrões. Meu pau, minha pica, meu cacete.. sonhava com ela a me abocanhar o pau com apetite de uma vagabuda. Sentia as mãos me percorrendo a coxa e foi nesse momento que abri os olhos para minhas visões. Ela estava ali, e quando abri os olhos assustado, ela colocou o dedo diante dos lábios me pedindo um silêncio necessário, o som da porta sendo trancada.
- Em alguns dias sairá sua ordenança. E vai embora da catedral para uma paróquia no interior não é?
A voz dela era quase abafada pelo meu respirar. Pelos meus olhos arregalados a observa-la. Era uma visão. Só podia ser uma visão. Eu respondi num meneio positivo da cabeça, num engolir seco.
- Se ficasse aqui, eu poderia esperar mais tempo, até ser menos arriscado vir para as galerias, mas como vai embora..
E aqueles dedos delicados. Dedos que beijei tantas vezes em respeito e benção, erguia o habito, retirava o tecido que cobria o corpo revelando as respostas das minhas perguntas lascivas. Um corpo esguio. Sem muitas curvas. Seios pequenos de bicos rosados. A buceta coberta de pelos negros que tapavam a vista inquisitora. Levantei-me da cama, correndo para o guarda-roupas em busca do meu açoite. Eu estava excitado, desde antes de acordar com ela no meu quarto. E precisava da minha fé. Da minha verdade. Tomei o açoite e comecei o flagelo com o ruído das cordas nas costas calejadas, marcadas.
- Confiteor Deo omnipotenti et vobis, fratres, quia peccavi nimis cogitatione, verbo, opere et omissione: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, omnes Angelos et Sanctos, et vos, fratres, orare pro me ad Dominum Deum nostrum.
Ela apenas se mantinha ali ao lado. Nua. O sorriso doce nos lábios, aquela pinta que me tirava os sentidos apenas de recordar. Deixou que me batesse até que o sangue começasse a escorrer pelas feridas novamente abertas e então segurou minha mão. Retirou-me o açoite dos dedos e os dedos dela delicadamente tomavam meu rosto molhado de lágrimas, duvidas, desejos e medos.
- Você é um homem de Deus, um representante do Senhor na terra. Eu prometi servir ao senhor, e a ele entregar meu corpo. Então, receba-o, em nome do Senhor.
E aquela boca, delicada, fina, tomou a minha, num beijo intenso. A língua que me invadia a boca, os dedos que percorriam o caminho para a minha nuca.. os mordiscares que dva nos meus lábios prendendo-os em sua boca. Fora impossível negar o beijo, fora impossível impedir que minhas mãos tomassem as costas delicadas, e deslizassem sentindo a pele, e o gosto. O sabor do beijo, da pele do pescoço.. era mais delicioso do que qualquer sonho que eu pudesse ter tido. Era fresco. Ela cheirava a flores e aquilo inebriava. E ela me tirou a calça, com sorrisos ao ver o meu estado.
- Tem um demônio no corpo, Irmão... é meu dever expulsa-lo.
E sorria daquele jeito lascivo de uma mulher que sabe o que quer e como faz. A boca que descia tomando meu corpo, mordiscava meu peito, e seguia trilhando o caminho delicado e raro dos pelos do umbigo até o membro. Ela o envolvia, o tomava entre os dedos e deixava a língua brincar com a extremidade. Tocava-o com o sorriso safado estampado no rosto.
- É tão bonito Mateus.. bonito como um anjo..
E falava isso deixando que eu escorregasse para dentro da boca. Até hoje eu não consigo descrever aquela sensação. Da aspereza úmida e quente da língua que tocava a pele, que deslizava molhando todo o falo. Meu respirar se prendia. E involuntariamente o quadril movia-se para ela, queria que ela me chupasse inteiro. A sensação era maravilhosa. Se aquilo era padecer no inferno, tive certeza que minha alma se venderia. Ela me chupou com primor de quem praticava isso há tempos. Os dedos brincavam nos testículos num acariciar com a ponta deles. E ela permitia a língua matreira a deslizar até a base. Lambia a virilha.. os pelos.. pressionava a base, hoje sei que para não me permitir gozar. E caminhou para a minha cama. Levando-me com o membro na mão. O crucifixo dela pendurado entre o seio. O manto do habito contendo os cabelos negros. Deitou-se e abriu as pernas diante de mim. O cheiro do sexo molhado.
- Vem, meu menino... me chupe.. sabe como ela se chama? É a morada do diabo... a minha menininha.. minha boceta..
Era lasciva, era intensa e naquele momento eu tenho certeza que me apaixonei e não mais teria paz. Eu a obedeci. Ajoelhei-me entre as suas pernas brancas e os dedos dela afastavam as carnes molhadas.. e a minha língua a tomou. Desengonçadamente no inicio.
- Mais devagar... apenas a pontinha da língua meu menino.. apenas a pontinha.. assim.. neste pontinho aqui olha..
Ela dizia entre o resfolegar da respiração me exibindo o clitóris. E eu obediente e aprendiz atendia.. e realizava com afinco os desejos que ela imputia.
- Isso.. assim... é gostoso.. agora chupa.. chupa ela inteirinha.. que boquinha gostosa tem o meu menino..
E a chupei até sentir que ela se esvaia em meus lábios. Assustei-me. Achei que se tratava de urina. Mas o respirar acentuado, o rosto sorridente, os gemidos, era o primeiro gozo de uma mulher em minha boca. E eu havia gostado.
- Enfia em mim.. mete esse seu pau na minha boceta, agora.. vem meu menino..
Os dedos delicados dela buscavam a mim. E me tocavam introduzindo meu membro dentro dela, e novamente aquela sensação. Mas agora mais intensa. As paredes que se contraiam me massageando. Enquanto eu ermo, parado, e ela movia o quadril para cima e para baixo. Incitando meus movimentos. As pernas abertas, os pés que deslizavam sobre a minha coxa, os dedos que tomavam a minha nuca, que deslizavam nas minhas costas, no meu sangue, nas feridas abertas.. os olhos negros me fazendo prisioneiro. Os meus primeiros movimentos, que ganhavam intensidade quando ela guiavam meus lábios para os pequeninos seios..
- Beija...
E eu atendia, atenderia tudo que ela quisesse e pedisse. Eu já a amava. Beijei os seios, chupei-os.. e os movimentos foram se tornando mais intensos, os gemidos mais altos, até o ápice. A sensação de espasmos.. de que eu morreria a qualquer minuto me esvaindo inteiro pelo pau. O Meu gozo veio com o gozo dela, com o arranhar da unha nas minhas costas.. com o beijo apaixonado nos meus lábios. Com a mão que agora tocava a minha caixa. E me fazia abrir os olhos novamente. Eu estava ofegante. Suava. Sentia os pingos do suor descerem pelo meu rosto e limpei com um lenço rapidamente antes de olhar a mulher que estava sentada ao meu lado, com o sorriso doce nos lábios.
- Bom dia, sou a Irmã Claire. Você deve ser o detetive Edward Flaning, não é? O Bispo pediu que eu viesse recebe-lo e leva-lo até a sacristia, ele já virá atende-lo.
Eu sorri para a mulher. Realmente era linda. Uma perdição. Muito mais do que estava contado naquele diário que era a única pista da policia atualmente.
- Sou sim. Vim investigar a morte do Padre Mateus Fantini. Acompanhei a mulher quando fechei o livro escrito pelo padre em meu colo. Estar naquele lugar era como poder enxergar pelos olhos dele. Então que ele me mostrasse o que realmente o bispo iria dizer.

Reflexões

"Teus olhos imorais,Mulher, que me dissecas
Teus olhos dizem maisQue muitas bibliotecas..."
(Cesário Verde)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Visita à Desireé - Parte 2 (Final)

Os olhos de Kock se mantinham sobre a pequena Ammellie, havia um misto de sorriso e satisfação esboçado no rosto angular e belo do homem que a fazia gemer ainda mais alto. As mãos da pequenina erguidas pelo braço de Victor. O homem deixava que os lábios presenteassem a pele virginal com beijos e mordiscares. O membro a deslizar entre as pernas da garota que tentava em vão arqueá-las levemente. O corpo amolecia por inteiro. Sentia o melar das coxas, o abdômen que subia e descia em uma velocidade ofegante. Ela gozaria, gozaria não no membro de Victor entre suas pernas, mas nos olhos de Kock que a possuíam inteira. O rapaz atrás da pequena movia-se. Deixava-se esfregar nela. As mãos tocavam os pequenos e rijos seios, brincavam com o biquinho sem muita destreza, mas ainda assim, sob aquele olhar qualquer toque se tornava inebriante. As mãos de Desireè tomavam o cabelo da ruiva que estava entre as suas coxas. Gostava daquela sensação de comandar. Gostava de ter total controle sobre a vontade de outro. E era assim que provocava Lucrecia, enquanto a mulher se esbaldava em chupar-lhe o sexo com volúpia, melava-se inteira no sexo de Desireè. Mordiscava. A ponta da língua provocativa brincava como fazia com seu mestre, tocava-lhe a ponta do clitóris e deslizava para dentro do sexo da mulher. Desireè deixou escapar um gemido que lhe traia. Mas vinha o tapa. O tapa forte contra o belo rosto da escrava de Kock.
- Eu lhe permiti que me fodesse com essa sua língua de merda, sua vagabunda? – E a mão da Domme a puxava pelo queixo.
Os olhos de Lucrecia eram de desculpas. Não podia ter agido por conta própria, não podia ter feito aquilo, era uma impura, não era digna de chupar a amiga de seu mestre.
- Me perdoe senhora, me perdoe.
E outro tapa. Marcava o rosto de Lucrecia com os dedos finos. Parecia até mesmo haver algo mais do que disciplina em seus atos. Descia a perna do braço do sofá. Se aquela vagabundinha de Kock continuasse ela gozaria com toda a certeza e não seria bom que seus escravos a vissem gozando para outra e tão rápido. A culpa era de Henrick que se mantinha ali imóvel. Nem os ruídos do tapa, ou os pedidos de Lucrecia pareciam capaz de tirar-lhe do transe nos olhos de Ammellie. Os olhos da Domme estavam novamente sobre os do Mestre e aquilo parecia rasgar-lhe inteira numa onda de calor que não podia justificar. Lucrecia abaixava-se. Lambia as botas de Desireè num pedido de desculpas muda e a mulher não se deixava voltar atrás.
- Basta!! – e erguia a mulher pelos cabelos fazendo-a reclinar-se no encosto do sofá, mantendo as nádegas empinadas e redondas para cima.
- Vai me castigar senhora? – Indagava a voz doce e sedutora de Lucrecia. Kock sabia trabalhar bem suas escravas e o sorriso de satisfação que Desireè não pôde ver desenhado nos lábios carnudos da mulher entregava que o ato havia sido pensado exatamente para chegar onde ela queria. O Castigo.
Desireè não respondia. Os olhos fixos em Kock sentiam a vagina formigar inteira. Queria que ele a fodesse. Que estranho dom era aquele do Dominador? Ele estava trepando com a escrava e com ela ao mesmo tempo, sem tocar a escrava e a ela sequer destinava o olhar. Desgraçado. Virava-se de vez, deixando os dedos tatearem a baixela de prata na sala com alguns apetrechos e deixava o dedo deslizar sobre o dildo, negro. Num tamanho desproporcional. Orgulho de orgias romanas talvez. E vestia a calcinha que o prendia. Era um homem e em seus devaneios psicóticos talvez até pensasse ser o próprio Kock naquele instante. O falo rijo sintético a apontar para o alto, guiado pelas delicadas mãos da dominatrix. Ela sorria, caminhando para a frente do rosto de Lucrecia.
- Vai aprender a se portar com uma Domme, sua cadela imunda...
E novo tapa. O rosto da mulher chegava a virar pela violência da mão que lhe marcava o rosto. Doía. Sim doía, mas ela se sentia tão presa e excitada àquela dor. Os olhos de Lucrecia voltavam suplicantes para os olhos da Domme..
- Abre a boca cadela vagabunda e chupa. Chupa o meu pau.
Sorria com escárnio quando a pequena e desejosa boca de Lucrecia tomava o dildo. Não conseguia envolve-lo inteiro, nem mesmo abocanhar a glande inteira na boca.. era grande. Nunca havia brincado com um desses, e de repente sentiu medo. Mas um medo aliado a uma vontade imensa de sentir-se rasgada ao meio por aquele membro negro. E lambia inteiro.. deixava a língua deslizar do topo à base, como uma gatinha sedenta a beber o mais puro leite. Os dedos brincavam ao redor do dildo, como se masturbasse o membro de sua Domme honorária. Os olhos se mantinham baixos, como uma serva deveria ficar e nisso, Lucrecia mostrava total talento. Os olhos de Desireé ainda estavam sobre Kock. E para os dele não havia outro lugar. Victor deixava que a mão deslizasse pelo abdômen. Que os dedos descessem até o ventre.. e afastava. Expunha o clitóris, ao dedo. À ponta do dedo que deslizava sobre ele, sem sequer deixar de beijar a nuca, de respirar ofegante entre os fios de cabelo. De deslizar a boca ao lóbulo em mordiscares, permitindo à língua contornar a orelha. Ammellie arfava. A boca entreaberta deixava a ponta da língua contornar os lábios e os olhos imploravam pelo toque de Kock. Queria que ele arrancasse as mãos de Victor, que fosse ele a prová-la daquela forma. E nesses pensamentos sentia o estremecimento lhe tomar as pernas, molhava ainda mais.
- Senhora.. eu não agüento mais.. eu vou gozar.. – A voz delicadamente juvenil sussurrava ao mesmo instante em que o grito de dor de Lucrecia era ouvido. Desireè a penetrava sem dó ou piedade, fazendo o corpo da slave tombar para frente. Dor, a dor era lacerante. E por alguns segundos para ela não houve prazer algum. Houve a sensação de ser aberta em duas. A sensação do filete de sangue que escorreu pelas pernas. A lagrima que brotava aos olhos quando ela tentava agarrar o couro do sofá. O morder da própria boca para conter mais gritos. Kock não a maltratava assim, era algo novo. E ela já não sabia se gostava tanto de estar dominada por Desireè. Mas não podia voltar atrás ou seria castigada com algo maior.
- Toque-a. – Pela primeira vez durante aquela orgia a voz rouca de Kock se fez escutar. Era imperativa e destinada a Desireè. Mas os olhos dele não se desviaram de Ammelie. A garota estava prestes a gozar. E ele queria ver o quanto ela agüentaria.
A Domme escutou a ordem e mecanicamente, levou os dedos ao sexo de Lucrecia. Habilidade. Desireé possuía toda uma habilidade com as mãos, manuseava o clitóris com delicadeza e certeza nos toques, deslizava-o escorregadio entre os dedos, massageava. E manteve o ritmo até perceber que a musculatura de Lucrecia já não estava tensa. Que alem dos gemidos de dor, os luxuriosos de prazer começavam a brotar e então voltava a se mexer dentro da garota. Os olhos da Domme sobre os de Kock. A pequena Amellie disse que gozaria, informava sem pedido algum. Para Desireé a ordem de Kock fora um tapa no rosto. Não queria continuar com aquilo não queria ver o que seus ouvidos acabavam de escutar. Kock mantinha o olhar e por ele dizia que não era hora. E Ammellie puxava o ar para si com toda a força dos pulmões.
- Não senhora.. eu.. – titubeava o formigamento já lhe consumia todo o ventre – eu não posso gozar agora.. eu.. eu agüento mais.. agüento..
Kock sorriu. E só então caminhou até a garota. O cheiro do homem. Os gemidos de Lucrecia que explodia em gozo sem prévio aviso, devido à mão de sua senhora no momento e do descaso dela por estar presa aos olhos de Kock e de Ammellie. Desireè molhava inteira. Não.. não podia ainda ser tão fraca assim perto daquele homem. E Kock deixava o corpo estar a milímetros de Ammellie. A mão que tocava o sexo. Os dedos que deslizavam suaves, quase imperceptíveis pela fenda até o clitóris.
- Goze agora minha criança...
Não seria preciso sequer a penetração para fazer o corpo de a menina converter-se em espasmos que lhe tremiam toda a carne. Gozava. Abundantemente nos dedos de Henrick. Era dele o seu gozo, como fora cada suspiro de prazer que dera naquela sala. Uma experiência incomum que ela sabia que jamais presenciaria novamente, se não fosse ao lado dele. As pernas amoleciam e mantinha-se em pé tão somente apenas pelas mãos de Victor que a segurava. Ofegava e em momento algum do gozo, desviou os olhos daquele que para ela, em seu intimo seria sempre o seu verdadeiro senhor. Ele sorriu. Retirava o dedo do sexo da garota. Esfregando os dedos um no outro, deixava-se sentir o cheiro passando-os perto do nariz. Virginal. Ele sorriu virando-se para Desireè. Que ainda o olhava. No momento do orgasmo de Ammellie ela tinha se permitido sair de dentro de Lucrecia que estava sentada na poltrona.
- Leve-a Kock. Eu usei a sua escrava, sei que tem um preço a pagar. – Havia mágoa, extrema mágoa no tom de voz da linda mulher diante dele.
Ele sorriu. Deixou os dedos tomarem a nuca de Desireè puxando-a para si. Fazendo os lábios encontrarem os dela, num beijo lascivo. A língua que adentrava a boca da mulher, provocativa. Os lábios úmidos que sugavam os dela com força, com desejo que faziam a Domme amolecer envolvendo-o pelo pescoço. Deixava o membro sintético roçar o verdadeiro por baixo da calça de Kock.
- Eu não re-adestro slaves... – Murmurava ao mordiscar os lábios de Desireè. – Viveu tanto tempo sob meu domínio e esqueceu como procedo, Catarina? – A garota é sua... E sim... vc me deve. Usou Lucrecia. Eu vou cobrar. No momento exato. Por hora. Estou grato pela visita.
Ele sorria e afastava-se. Saia-se daqueles braços que lhe envolviam o pescoço, porque ele assim havia permitido. Estendeu a mão para que Lucrecia viesse. E a mulher ia. De cabeça baixa, como uma cachorrinha que revê o dono após um longo tempo.
- Vamos Lucrecia.
A mulher meneava a cabeça afirmativamente, obediente. Havia feito como seu dono pedira, induzira Desireé ao seu limite. Pegava as roupas para vestir-se. E seguia pouco atrás de Kock para a porta. Ammellie o olhava, como se pedisse, implorasse para ser levada por ele.
- E Desireè.. ainda tem muito de bottom em vc minha querida. Uma slave retraída e vingativa.. – ele sorriu, abrindo a porta. – Eu já tenho meu preço. Ligarei para cobrá-lo. Por hora, melhor tirar do baú sua antiga coleira com as iniciais HK.
E saiu pela porta, seguido por Lucrecia. Deixando para trás Ammellie, Victor, e Desireeé que apenas ao escutar as palavras coleira.. iniciais.. HK.. sentia as pernas tremerem. A respiração entrecortar. Maldito Kock.. Maldito. Maldito controle que ainda tinha sobre seu lado Slave que ela jurava ter morrido.

domingo, 14 de outubro de 2007

Reflexão

"Nunca vá para a cama com um perfeito desconhecido,
a não ser que o desconhecido seja perfeito."
Mae West (?)